Quando em 1916, a 14 de
Agosto, um grupo de
homens e rapazes fundou
na povoação de
Vildemoinhos, o Lusitano
Futebol Clube,
naturalmente com o gosto
pelo desporto e
nomeadamente pelo
futebol, longe de si
estaria, com certeza, a
noção exacta do que
poderia vir a ser o
desporto decorridos
quase cem anos.
Naquele tempo, num
amadorismo total a nível
nacional e até mundial,
o desporto era mais puro
e portanto mais rico,
mas era, embora pareça
um paradoxo,
concomitantemente mais
pobre em recursos
humanos, técnicos,
administrativos,
financeiros, em
instalações desportivas
e em tudo o resto.
O tempo decorreu, e com
ele tudo se modificou de
tal forma que hoje, um
clube desportivo, embora
com as características
ímpares do Lusitano,
carece já duma
organização quase
perfeita, para poder
sobreviver, dar
continuidade àquilo que
foi o sonho dos
antepassados, e levar
por diante os interesses
que a causa desportiva
exige e necessita, para
um desenvolvimento
físico da juventude e
dos atletas.
Lembramos perfeitamente
que o futebol foi
“enraizado” na aldeia
por Joaquim Lopes
Duarte, filho de
abastado lavrador
trambelo que cursando no
Colégio da Via-Sacra, na
época ali o viram
praticar, levou certo
dia uma bola para a sua
terra. A intuição dos
seus conterrâneos
facilmente assimilou o
“jogo da bola” e o
percurso normal de tal
acontecimento levou ao
longo dos tempos à
oficialização do
Lusitano Futebol Clube.
A sua apresentação
deu-se em Viseu e o
célebre dia da primeira
vitória jamais será
esquecido, no Campo da
Ribeira, sobre a
“selecção de Viseu”, o
então Sport Lisboa
Viseu.
Seguiram-se tardes de
afirmação das notáveis
qualidades dos trambelos
para a modalidade não só
no distrito, como nos
campos de Coimbra,
Aveiro e Guarda, onde se
internacionalizaram em
jogo contra um grupo
salamantino (Salamanca)
e venceram.
Recordar um Emídio, um
Xinó, os irmãos Pires,
um Manuel Cruz e mais
alguns da época que fez
galardoar o clube com a
sua superioridade no
distrito, ao ponto de
não perder um só jogo em
duas épocas seguidas,
torna-se obrigatório.
Em 1936, motivos de
vária ordem forçaram o
Lusitano a suspender a
actividade mas
Vildemoinhos não era
capaz de suportar a
suspensão por largo
tempo, tal como Viseu
que também lamentava
pois o futebol local
sentia a falta e os
efeitos negativos dela.
Do rejuvenescimento a
que forçou a modalidade,
da sua tenacidade e do
seu sacrifício,
resultaram dois
baluartes que o impõem
no desporto português: o
campo dos Trambelos e
essa glória nacional que
é Carlos Lopes,
“descoberto” e lançado
pelo Lusitano que nem só
ao futebol empresta a
sua vitalidade.
Os primeiros troféus
Não se estranha, porém,
que apenas 10 anos após
a sua fundação, o
Lusitano Futebol Clube
tenha conquistado o seu
primeiro grande troféu,
ao vencer o Campeonato
Distrital da 1.ª
Divisão, ascendendo
assim pela primeira vez
na sua história ao
Campeonato de Portugal,
onde foi então o
representante do
distrito de Viseu.
Em 1934, a equipa de
Vildemoinhos aparece
pela primeira vez no
então Campeonato da 2.ª
Liga, maior escalão onde
o Lusitano alguma vez
actuou, e por onde andou
duas temporadas.
Seguiram-se inúmeras
presenças na 3.ª Divisão
Nacional e mais alguns
títulos na 1.ª Divisão
Distrital. Ao todo, são
14 os títulos de campeão
distrital conquistados
pelo Lusitano, sendo que
apenas 1 deles foi na
2.ª Divisão Distrital.
A construção do
estádio
Em Outubro de 1969, as
gentes de Vildemoinhos,
numa explosão de
bairrismo e de querer,
lançaram ombros ao maior
empreendimento de
sempre, procurando, e
conseguindo a compra de
terrenos para a
edificação do seu parque
de jogos.
Do que foi essa
odisseia, nunca será
demais recordar e
reviver um passado
recente, que veio dourar
o entusiasmo dos de
antanho e tornar mais
rico, tanto no aspecto
material como desportivo
e cultural o sempre
jovem e actuante clube
dos Trambelos.
Assim, desde 1969 até
esta data, o Lusitano,
através dos vários
elementos que o
dirigiram, mas muito
especialmente com o
querer, o dinamismo e a
pertinácia dum punhado
de verdadeiros
Trambelos, realizou uma
obra que pode ser
apontada como um exemplo
a seguir por outros
clubes.
Não tinha o clube um
tostão disponível quando
negociou os seus
terrenos, mas, como que
por milagre num instante
se conseguiu a verba
necessária para o seu
pagamento.
Dia 17 de Setembro de
1972, domingo, marco
histórico da vida do
clube. Logo pela manhã
uma salva de 21 tiros
anunciava a todos os
trambelos que era dia de
festa rija. Finalmente o
estádio dos Trambelos ia
ser inaugurado.
O almoço, servido na
Quinta da Cruz, a que
presidiu o Governador
Civil, foi pretexto para
exaltar tudo quanto as
gentes de Vildemoinhos
fizeram em prol da sua
terra.
Às 15 horas o pároco da
freguesia, na presença
de várias entidades,
lançou a bênção ao
estádio dos Trambelos
após o que o sócio n.º1,
o falecido e
inesquecível senhor
António Lopes, deu o
pontapé de saída para os
jogos que se iam seguir.
Os primeiros encontros
no novo estádio foram o
Académico 1-0 Mangualde
e o Lusitano 0-4 Anadia.
A equipa trambela foi
constituída por Jorge,
Abel, Carlos Alberto,
Serafim, Luís, João
Manuel, Carlitos,
Feijão, Siscas, João
Carlos e Peres.
Outro marco importante
sobre o novo estádio dos
Trambelos deu-se em 1995
com o arrelvamento do
campo, tornando-o mais
moderno, mais atraente e
virado para o futuro,
dotando as suas equipas
de melhores condições
para atingirem o sucesso
desportivo.
Já mais recentemente,
outra obra importante há
a destacar. A construção
do campo da Quinta da
Cruz, para já ‘pelado’,
tem sido importante para
as camadas jovens mas
espera a Direcção, um
dia, dotá-lo de relvado
para aumentar a
qualidade da sua
formação, embora tal não
seja possível sem a
contribuição preciosa
das entidades
responsáveis.
Em 2002 o Lusitano
inaugurou ainda a sua
nova sede, junto ao
Pavilhão Gimnodesportivo
que também lhe pertence.
Década dourada
A década de 80 foi, sem
dúvida, uma das mais
importantes na história
do Lusitano. Para além
de várias presenças nos
campeonatos nacionais, o
clube conquistou em
1982/83 o Campeonato de
Reservas. No mesmo ano,
juntou a este título a
Taça Sócios Honorários,
fazendo assim a
‘dobradinha’ numa época
em que disputou a 3.ª
Divisão.
Em 1985/86, o Lusitano
conquistou a sua
primeira Taça Sócios de
Mérito, feito que viria
a repetir já em 1995/96.
Formação com títulos
O Lusitano desde há
muito tem equipas de
escalões jovens mas
nunca como agora
conquistou tantos
títulos com os seus
‘miúdos’.
A primeira vez que uma
equipa de formação
lusitanista conquistou
um troféu foi em
1946/47, com os seus
Juniores a sagrarem-se
campeões distritais,
feito que repetiram por
mais quatro vezes.
No escalão de juvenis, o
primeiro título
distrital chegou em
1962/63, repetiu-se em
68/69 e pela terceira
vez em 2010-2011.
Nas últimas épocas o
Lusitano festejou ainda
os títulos distritais de
Iniciados, Escolas e
Infantis.
Mostrando a dedicação
que a Direcção
lusitanista emprega nas
camadas jovens, o clube
rubricou em 2008 um
protocolo de cooperação
com o Sporting Clube de
Portugal, sendo que os
dois clubes já
realizaram algumas
acções de captação em
conjunto.
Vários são os nomes que
contribuíram, directa ou
indirectamente, para que
o Lusitano seja hoje o
clube mais antigo do
distrito de Viseu e um
dos mais antigos de
Portugal, mas não nos
pode esquecer uma pessoa
que, pela sua ligação
próxima ao clube, paixão
inequívoca e humildade,
simpatia e honestidade
naturais, nos merece
toda e qualquer
homenagem. Sílvio Guedes
foi um dos presidentes
mais carismáticos do
Lusitano Futebol Clube e
esteve vários anos na
presidência do clube,
embora a sua ligação ao
emblema trambelo tenha
perdurado ao longo de
várias décadas. Faleceu
ainda em funções a Abril
de 2009. O seu
vice-presidente de
então, António Loureiro,
é hoje em dia o
presidente do clube, e
pese embora o passado
bonito do clube, o
actual presidente trouxe
uma visão mais jovem ao
Lusitano, apostando
ainda mais nas camadas
jovens, alcançando com
elas títulos
importantes, dinamizando
a equipa sénior e
tentando alcançar outros
voos mas tendo um
perfeito sentido de
responsabilidade
financeira, equilibrando
as contas ano após ano.
Recentemente, o clube
festejou 95 anos de uma
história fantástica que
quer glorificar com cada
vez mais títulos, mais
alegrias, maior
responsabilidade, maior
dinamismo, maior
inovação, mais
empreendedorismo, sem
entrar em loucuras nem
dar um passo maior do
que as suas próprias
capacidades. O Lusitano
é hoje cada vez mais uma
referência no desporto
em Viseu. Começa, se nos
permitem, a ser a
referência em Viseu, e a
prová-lo está a forma
como trabalha, como se
responsabiliza, como é
humilde, como faz dos
seus jovens o seu
futuro, como se
transforma, dia após
dia, numa família, num
clube diferente, com uma
história que nos
orgulha, com um passado
de referência, com um
património sem igual em
Viseu e com o desejo,
ardente, de continuar a
servir a cidade e o
país, numa caminhada
fantástica já com 95
anos de memórias… |